Escritora de Barretos lança primeiro livro após dez anos de criação ‎

Uma narrativa de sobressaltos, que conta um passado recente de nosso país. A ótica se desvela pelo mundão de Deus das fazendas mineiras, de São Thomé das Letras a São João Del Rey, onde traumas familiares e paixões dão forma a um roteiro fictício, porém conhecido pelos protagonistas reais das três primeiras décadas do século 20, abalada pela crise da bolsa de 1929 e pela queda na cotação do café, que repercutiu em febre financeira e social.

Em questão, o livro “Perfume dos Laranjais – Helena”, primeira obra da escritora barretense Sada Ali Kitagawa, 49 anos. Com outra publicação prevista para ser lançada em dezembro, “Vitória”, e que dá continuidade à rivalidade entre as famílias Amaral e Avelar, completaram-se dez anos de elucubração e pesquisa até que o resultado final ficasse conhecido.

“Foi um tempo rico em descobertas e evoluções”, afirma a escritora, que produziu dois volumes contendo quase 700 páginas cada. O primeiro, lançado previamente em julho na cidade de Barretos, terá sessão de autógrafos no dia 26 de outubro, às 19h30, na Paraler, do RibeirãoShopping.

Detalhes do dia a dia da época são reproduzidos em “Helena” através de personagens como o fazendeiro octogenário Pedro José e as visões noturnas espirituais de sua mulher, dos filhos Otacílio e Riomar, cujos destinos foram determinados por azares diferentes; um perdeu a mulher no parto, outro foi assassinado na estrada por conta de uma dívida do sogro no carteado. Histórias trágicas, como a derrocada da família Sanfelice, cuja falência econômica repercutiu em assassinato seguido de suicídio por parte do patriarca italiano Nicola.

Distúrbios e felicidades que se sucedem até reproduzirem o triângulo amoroso vivido pelas belas irmãs Helena e Olívia Avelar com Armando Amaral, primogênito do fazendeiro Riomar, que enricou após se atrever a comprar a fazenda dos Sanfelice (antes de Nicola), ainda nos tempos de crise. Textualizados, os sotaques, italianos ou de ex-escravos negros, recheiam essas estórias, que começam a ponto de alta ebulição e sangue e desenrolam-se com muitas surpresas emocionantes páginas adentro.

“Escolhi Minas por sua história apaixonante, um legado de morte e luta pela pátria. As fazendas e outros cenários foram fruto de pesquisa. Estive em São João Del Rey para uma melhor observação e posterior descrição do cenário”, afirma Sada, sobre o Estado natal de sua mãe que ambienta a primeira parte da saga literária.





Escrever está no patamar das coisas essenciais na biografia de Sada, que apesar de manter-se empresária e mãe de família, dedica seus momentos vagos a aprimorar, ao seu modo, a arte de narrar. Atividade que já lhe rendeu prêmios literários como o primeiro lugar em um concurso da Academia Barretense de Cultura, em 2000, por meio do conto “Tempestade de Tormentos”, e uma cadeira na Academia de Letras e Artes de Barretos. “(escrever) significa desnudar a alma, desvesti-la dos invólucros que a cerceiam e deixá-la fluir livremente. Às vezes com serenidade, leveza e outras com tenacidade, tendo que ser implacável como não podemos sê-lo em nossa luta diária”, diz.

Uma forma de libertação, da esfera comum da vida privada, prossegue Sada, em que se pode incorporar sem culpa a figura do casto, do vilão, do anjo e do demônio. “É brincar de ser Deus inocentando-me dos meus próprios erros”, conta a escritora, que já esboça um novo livro, intitulado “Almas”.

Ditadura Militar
O desfecho da estória principiada em Minas tem como cenário a São Paulo dos anos 1960, da política do silenciar da Ditadura Militar. O título “Perfume dos Laranjais – Vitória”, previsto para ser publicado em dezembro, traz o idealismo de jovens como Vitória e Camila, do jornalista Justo e o preconceito vivido por Davi, descendente de escravos. “Suas estórias evoluíram dando lugar aos estudantes de Direito do Largo de São Francisco, aos rebeldes ou traidores, aos militares e a situações congêneres”.

Trabalho de reconstituição que coincide com a história pessoal de Sada. Uma de suas irmãs inspirou a concepção dos personagens. “Ela vivia na vanguarda do seu tempo. Ativista, participativa, fazia discursos inflamados, não recuava na opinião, tampouco cedia por medo de represálias.”

Ao tratar de costumes, e incrementá-los pelas paixões, rebeldias e ódios, Sada Kitagawa se sente na posição de produzir algo inédito, ainda que sobre um tema há muito versado em nossa literatura. “Cada escritor traz sua ótica para a escrita. No meu caso em específico, não se trata apenas de retratar a ditadura. Falo sobre costumes da época.”

Serviço
“Perfume dos Laranjais – Helena” (Sete Virtudes Editora, 2011)
Preço: R$ 42,90
Sessão de autógrafos: 26 de outubro, 19h30
Local: Paraler (RibeirãoShopping)

Fonte: Eptv.com





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